Petrobras tem atrasado pagamentos a fornecedores
e provocado dificuldades financeiras na cadeia de prestadores de serviços, após
ter adotado uma política de redução de custos em meio a prejuízos na sua
divisão de Abastecimento, aumentos de custos e produção estagnada.
Há também o atraso de pagamento para fundos de
recebíveis criados para financiar esses prestadores de bens e serviços,
disseram fontes à Reuters, observando que a estatal alterou sua política de
pagamentos recentemente e vem olhando com mais rigor os contratos.
Com isso, tem demorado mais tempo para liberar os
recursos. Em uma espécie de efeito dominó, os prestadores de serviços também
atrasam seus compromissos financeiros.
"Não vou dizer que a Petrobras é inadimplente,
mas que está em atraso. Enquanto algumas companhias estão sofrendo, estou
confiante que os pagamentos serão feitos", disse à Reuters Fernando
Werneck, gestor de um portfólio de fundos creditórios na BI Invest, exclusivos
de fornecedores da Petrobras.
Alguns dos fundos de investimento dedicados
exclusivamente aos fornecedores da Petrobras registraram aumento da
inadimplência.
Os pagamentos em atraso em cinco Fundos de
Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) saltaram 58,6 por cento, para 18,4
milhões de reais, em 31 de dezembro, ante 11,6 milhões de reais em setembro,
segundo uma pesquisa da Reuters junto à Comissão de Valores Mobiliários.
O FIDC existe para ajudar a Petrobras a terceirizar
o negócio de financiamento aos fornecedores. Fundos de investimento fazem
empréstimos às empresas que possuem contratos com a estatal utilizando como
garantia os recebíveis junto à Petrobras.
Ao longo dos últimos dois anos a Petrobras aportou
cerca de 7 bilhões de reais para ajudar os fornecedores.
A Petrobras negou na noite desta quinta-feira que
esteja atrasando pagamentos a fornecedores, prestadores de serviços e Fundos de
Investimento em Direitos Creditórios, e afirmou que não está sofrendo com
problemas de caixa.
"Os pagamentos dos compromissos reconhecidos
pela Petrobras são realizados de acordo com os prazos estabelecidos
contratualmente", disse a Petrobras em nota, reiterando posição
manifestada anteriormente pela assessoria de imprensa da empresa à Reuters.
A empresa ainda destacou que "não enfrenta
problemas de caixa, cujo saldo ultrapassa 40 bilhões de reais".
Problemas financeiros já empurraram algumas
empresas fornecedoras da estatal menores, como a GDK, a um processo de
recuperação judicial. Grandes empresas, tais como a Lupatech, tiveram que
vender ativos e levantar capital novo para evitar o pior.
Preocupações sobre como fazer negócios no Brasil,
onde a Petrobras é responsável por mais de 90 por cento da produção de
petróleo, levaram a uma queda de 34 por cento nas ações da italiana Saipem na
quarta-feira.
A empresa prestadora de serviços e equipamentos
offshore disse que os problemas do Brasil poderiam ajudar a cortar o seu lucro
em 80 por cento em 2013. As concorrentes Subsea 7 e Technip França, ambas
também fornecedoras da Petrobras, chegaram a cair mais de 6 por cento na
quarta-feira.
O programa de redução de despesas, que visa cortar
custos de 32 bilhões de reais no período de 2013 a 2016, foi anunciado no final
do ano passado, após a Petrobras ter acumulado nos nove primeiros meses de 2012
mais de 17 bilhões de reais em prejuízo na área de Abastecimento
(combustíveis), ao mesmo tempo que tem um plano de cinco anos de investir mais
de 200 bilhões de dólares.
Nessa conjuntura que favorece o crescimento do
passivo, a agência de classificação de risco Moody's alterou em dezembro para
negativo o rating da dívida da companhia.
Segundo fontes de empresas que prestam bens e
serviços à estatal, a Petrobras tem demorado mais tempo para liberar os
aditivos aos contratos.
Nas licitações, as empresas ganhavam oferecendo um
orçamento abaixo do valor de mercado e depois recorriam aos aditivos, uma
prática comum, já que depois esses aditivos eram liberados com mais facilidade.
"Agora há um rigoroso processo de avaliação
por parte da estatal e sempre há a necessidade de mais e mais documentos.
Enquanto isso, o dinheiro não sai", disse uma fonte de uma empreiteira de
médio porte que presta serviço à Petrobras.
Com a demora na liberação dos pagamentos, as
empresas precisam tomar empréstimo de curto prazo, disse a fonte, a custos
altos, gerando um desequilíbrio nas contas.
"Em geral tem demorado uns meses a mais. Como
dois terços do nosso faturamento depende de contratos com a Petrobras, há um
desajuste", disse à Reuters o executivo, na condição de não ter seu nome
divulgado.
Algumas empresas têm quase a totalidade das
receitas atreladas aos contratos com a Petrobras e podem acabar falindo com o
atraso dos pagamentos.
É o caso da Tenace Engenharia, que com 90 por cento
de faturamento oriundo da estatal pediu falência no fim do ano passado.
A empresa tinha um grande contrato de construção de
uma unidade de gasolina e diesel no Polo de Guamaré, no Rio Grande do Norte.
Também prestava serviços para a estatal em Urucu, no Amazonas.
Segundo uma fonte da empresa, a Petrobras não
concordou em renegociar aditivos aos contratos. A Tenace enviou um comunicado
aos seus credores responsabilizando a estatal pelo seu fechamento, segundo a fonte,
que preferiu não ser identificada.
A construtora GDK, também grande fornecedora da
estatal, teve o seu pedido de recuperação judicial aprovado no dia 10 de
janeiro pela Justiça da Bahia, segundo nota enviada pela empresa à Reuters.
E a construtora Egesa, responsável por parte das
obras de uma unidade de fertilizantes da Petrobras, também anunciou
recentemente aos seus funcionários e credores que "está passando por uma
reestruturação financeira em função do cenário econômico atual".
Fonte: http://economia.ig.com.br/empresas/2013-02-02/problemas-de-caixa-da-petrobras-comecam-a-contaminar-parceiros.html
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