As pesquisas
Segundo os dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe, no
Brasil, o sexo masculino representa 59% das mortes registradas por coronavírus.
Desde o início da pandemia de Covid-19 cientistas
ao redor do mundo também começaram a perceber que a infecção tende a afetar homens de forma mais grave que mulheres.
Estudo conduzido por cientistas chineses, publicado no final de abril
na revista científica Frontiers in Public Health, concluiu que os homens morrem
duas vezes mais por coronavírus do que as mulheres. Outra pesquisa publicada em abril, do Global Health 50/50, um grupo de
pesquisadores da University College London focado em saúde e gênero, mostrou
que, apesar de homens e mulheres se infectarem na mesma proporção, pacientes do
sexo masculino têm de 50% a 80% mais chances de morrerem por coronavírus em
todos os países afetados pela pandemia.
Testoterona
No mês de abril de 2020 um estudo alemão publicado na revista científica "Cell" indicou um gene presente nas células que facilita a infecção pelo Sars-CoV-2 (o novo coronavírus), chamado de TMPRSS2. Essa constatação foi importante porque o gene é regulado por hormônios masculinos (os chamados andrógenos).
Várias pesquisas apontam que os hormônios sexuais
masculinos, como a testosterona, têm
papel central na diferença de mortalidade entre homens e mulheres. (Mulheres
também produzem testosterona, mas em menor quantidade).
Por causa disso, cientistas agora testam a hipótese de que tratamentos
que inibem hormônios masculinos poderiam ser úteis
(porque, com os hormônios inibidos, o gene TMPRSS2 ficaria "menos
ativo", tornando a infecção pelo vírus mais difícil). Esse tipo de
tratamento já é usado em alguns tipos de câncer de próstata, nos quais o
TMPRSS2 também está envolvido.
Em maio, um estudo feito com pacientes italianos com câncer de
próstata e infectados pela Covid-19 indicou a possibilidade de que esses
tratamentos inibidores dos hormônios masculinos pudessem dar alguma proteção
contra o novo coronavírus. Os cientistas, entretanto, sinalizaram que os
resultados ainda precisam ser confirmados em estudos maiores e que levem outros
fatores em consideração.
A possibilidade de tratamento com um inibidor de hormônios masculinos já
está sendo testada na Universidade da Califórnia em Los Angeles, em 200
ex-militares, em um ensaio clínico controlado, segundo a "Science".
Os pacientes que recebem a substância têm o nível de testosterona zerado em
três dias.
O líder do estudo, o oncologista Matthew Rettig, disse que o efeito é
equivalente a "castração cirúrgica", mas é temporário: enquanto no
tratamento de câncer de próstata o medicamento é tomado várias vezes, no estudo
há apenas uma dose. A expectativa é de que haja resultados em 4 ou 5 meses que
mostrem se a mortalidade pela Covid foi reduzida.
Um outro ensaio clínico, na universidade americana Johns Hopkins, testa
uma outra substância, que bloqueia os receptores dos hormônios masculinos. O
remédio será aplicado em pacientes dentro de 3 dias após receberem o
diagnóstico de Covid-19; o grupo será comparado a outro que não vai receber o
remédio.
Segundo a "Science", mulheres serão incluídas nesse ensaio
porque têm hormônios sexuais masculinos, ainda que em menor quantidade. Além
disso, elas produzem estrogênio, que já demonstrou ajudar na recuperação em
lesões agudas de pulmão. O remédio testado inibe os hormônios masculinos e
estimula a produção de estrogênio.
Foto microscópica mostra célula humana infectada pelo Sars Cov-2 — Foto: NIAID via Nasa.
Estados brasileiros com mais homens afetados